Bom é passarmos algumas vezes por aflições e contrariedades, porque frequentemente fazem o homem refletir, lembrando-lhe que vive no desterro e, portanto, não deve pôr sua esperança em coisa alguma do mundo.
Bom é encontrarmos às vezes contradições, e que de nós façam conceito mau ou pouco favorável, ainda quando nossas obras e intenções sejam boas.
Isto ordinariamente nos conduz à humildade e nos preserva da vanglória. Porque, então, mais depressa recorremos ao testemunho interior de Deus, quando de fora somos vilipendiados e desacreditados pelos homens.
Por isso, devia o homem firmar-se de tal modo em Deus, que lhe não fosse mais necessário mendigar consolações às criaturas. Assim que o homem de boa vontade está atribulado ou tentado, ou molestado por maus pensamentos, sente logo melhor a necessidade que tem de Deus, sem o qual não pode fazer bem algum.
Então se entristece, geme e chora pelas misérias que padece. Então causa-lhe tédio viver mais tempo, e deseja que venha a morte livrá-lo do corpo e uni-lo a Cristo. Então compreende também que neste mundo não pode haver perfeita segurança nem paz completa.
Então se entristece, geme e chora pelas misérias que padece. Então causa-lhe tédio viver mais tempo, e deseja que venha a morte livrá-lo do corpo e uni-lo a Cristo. Então compreende também que neste mundo não pode haver perfeita segurança nem paz completa.
Reflexões
Acho que, entre todas as vantagens da tribulação, que não são poucas, uma das mais excelentes é que ela nos faz voltar a Nosso Senhor. Quando estamos vivendo na prosperidade, frequentemente o esquecemos, mas na adversidade recorremos a ele como ao nosso único refúgio.
Como o suco da uva, se o deixarmos no cacho durante muito tempo, deteriora e apodrece, assim a alma, se a deixarmos em seus prazeres e volúpias, em seus desejos e aspirações, ela se corrompe; mas se for oprimida pela tribulação, dela sai o doce licor de penitência e de amor.
Oração
Eu sou vosso, ó meu Deus, salvai-me, tende misericórdia de mim, pois minha alma confia em vós; salvai-me, Senhor, porque as águas submergem meu coração; fazei de mim um de vossos mercenários, Senhor; sede propício a mim, pobre pecador.
Fonte: livro: imitação de Cristo - Tomás de Kempis