A maioria dos cristãos que se intitulam como tal no Brasil não conhece sequer os princípios basilares de sua religião.
O cristianismo nacional não é cristão; é muitas vezes um misto de demência cognitiva e invenção de um sentido conteudístico grotesco para um conceito religioso formal anteriormente esvaziado de sua própria substância conceitual.
A bizarrice é tão medonha que o cristianismo acabou por se reduzir a um ecletismo de fanáticos que frequentemente também adoram um bom clientelismo de cupinchas, tanto quanto, por meio do clientelismo, clamam pela benção paternal advinda das forças cínicas do status quo, enquanto objeto pelo qual a defesa da propriedade privada torna-se único parâmetro de fé e prática social.
A origem do linchamento do rapaz está nisso. Em síntese, a religião desses homens ditos de bem, cristãos "do bem" seletivamente benzidos com a "luz" da salvação divina faz, por conseguinte, o espaço social estar exaustivamente ocupado por crucifixos por todo lado (ressalte-se no espaço da internet), transmutando esse mesmo espaço na apologia incondicional ao status quo e às pequenas inquisições bairristas, tomadas como parâmetro teológico cujo destino é tanto a proteção de bens pessoais quanto a perpetuação de um ressentimento social a partir do qual o recalque se volta, quando liberado, contra inimigos públicos fabricados (talvez um ladrão de celular... o qual é - as aparências não mostram e o senso comum não percebe - a ponta do iceberg das determinações históricas pelas quais a desigualdade social avança sem piedade).
Nesse caso, registre-se aqui enfim a frase de Marx, muito emblemática para o caso: “A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo"
Janaína Monteiro - Facebook