Crônica de como contei ao meu filho

E hoje foi o dia de contar ao meu filho.

Eu espero que ele acorde, coloco no colo e começo:
- Você lembra que eu disse que o seu pai estava muito mal no hospital?
- Lembro sim. Eu pego no peito dele e digo:
- Pois é... de madrugada... o coração do seu pai parou de bater. Ele arregala os olhos pra mim e diz:
- Então ele... morreu? 

Eu só consigo afirmar com a cabeça. Ele tenta sair do meu colo e diz que não quer falar no assunto. Eu pergunto se ele quer um abraço. Ele me abraça e chora. Eu pergunto se ele quer ir ao velório ou ao enterro do pai, ele diz que não.
- Não mãe, eu quero esquecer.
- Mas meu filho, você não pode esquecer seu pai. Ele me olha e silencia. Depois fala:
- Mudando totalmente de assunto... posso assistir tv? Eu fico impressionada com a pergunta e consigo dizer que se ele vai assistir tv, pode assistir a aula. Ele pede para assistir tv e eu não tenho coragem de negar.

Foi assistir tv. Tempos depois ele vem ao quarto e me pede um abraço. Eu digo venha e ele me vê chorando.
- Por que a senhora está chorando?
- Eu também tenho saudade do seu pai, filho. Ele passa a mão nas costas do meu ombro e fala:

- Desabafa... Desabafa tudo. 

Ficamos alguns minutos assim até que eu digo:
- João Filho, não acredito...
- No quê? ele me interrompe.
- Que seu pai morreu. Ele me olha com ternura e diz:
- Mas tem que aceitar, mamãe. A vida é assim. As pessoas morrem. Se todo mundo no mundo morresse, eu teria que aceitar. Eu soluço. 

Ele continua:
- Agora eu não temo mais a morte. Eu pergunto porquê.
- Quando eu morrer o papai vai estar lá no céu me esperando. E eu confirmo que o pai já está no céu rezando por ele. Rezando por nós.

E foi esta a história do menino de 9 anos que consolou quando precisava ser consolado. Que me orgulha ver como ele cresce em sabedoria.

Lia de Aguiar Coriolano.

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