Entrevista com Jesus Cristo Parte I


Repórter
- Mestre, eu como um cientista, como poderei compreender e transmitir a tua ressurreição?

Jesus
- Há realidades que dificilmente poderão ser provadas pela ciência ou pelas deduções da pura razão.

Ninguém pode conceber tais verdades enquanto permanecer no domínio da experiência humana.

Quando tiverdes terminado cá em baixo, quando tiverdes completado o vosso tempo de prova na carne, quando o pó que forma o tabernáculo mortal for devolvido à terra donde provém, então, só então, o Espírito que nos alimenta, que foi Deus que vo-lo concedeu e a tua pergunta ficará plenamente satisfeita.

Repórter
- É verdade que a morte é apenas uma passagem, tão natural e obrigatória como a calma que sucede à tempestade?

Jesus
- A corrente de ferro da verdade, que vós qualificais de invariável, mantém-vos cegos num círculo vicioso.

Tecnicamente pode ter-se razão nos factos e, no entanto, estar-se eternamente equivocado na Verdade.

- Eu sou a Verdade. Tocaste-me e agora tu vês-me e ouves as minhas palavras. Porque continuas a duvidar?

O fato de não a compreenderes não significa que essa realidade superior seja uma quimera ou o fruto de mentes visionárias.

Quando chegar a tua hora, os meus anjos ressuscitados despertar-te-ão num mundo que nem sequer podes imaginar...

Repórter
- Os teus anjos ressuscitadores?

Jesus
- Tu, meu amigo, à tua maneira, já respondeste a essa pergunta: no meu Reino há muitas moradas...
E uma delas é passagem obrigatória para os mortais que procedem dos mundos evolucionários do tempo e do espaço.

Repórter
- E tu, também foste ressuscitado?

Jesus
- Não, meu filho. Acabo de dizer-te que eu sou a Vida. Os meus anjos, não a meu pedido dispuseram já do meu invólucro carnal.

Mas o poder de ressuscitar, no Espírito, é um dom que devo apenas ao Pai. Um dia, quando fores para o outro lado, compreendê-lo-ás.

Repórter
- Se não entendi mal, nenhum dos seres humanos tem o poder de auto-ressuscitar-se.

Jesus
- É verdade. No entanto, podeis desfrutar de soberana verdade que ninguém mesmo ninguém, perde esse direito.

Todos aqueles, como aconteceu comigo, despertareis para uma vida que é apenas o princípio de uma longa caminhada para o Paraíso.

Uma continuada ascensão para o Pai Universal. Uma viagem sem retorno.

Repórter
- Queres dizer com isso de que os teus anjos apenas dispuseram do teu invólucro carnal?

Jesus
- Já to disse, mas, na tua perplexidade, não ouves as minhas palavras. - Eu sou a Vida!

Em verdade te digo que nenhuma das minhas criaturas pode devolver-me o que é meu e que só compartilho com meu Pai.

Os meus discípulos, e a maioria dos homens dos tempos vindouros, associaram e associarão a maravilhosa realidade do regresso à vida eterna e espiritual com o mero desaparecimento do meu corpo terrestre.

Enganam-se. A desintegração desse invólucro carnal foi um fenômeno posterior à minha verdadeira ressurreição.

- A ti posso dizê-lo: Os milagres, tais como os concebem muitos seres humanos, não existem.

O poder de meu Pai é tão grande que não precisa alterar a ordem do criado. O verdadeiro milagre é a vossa cega crença nos milagres.

Repórter
- Alguns seres temem mais a incógnita do depois da morte que o fato físico da mesma...

Jesus
- Esses, no escandaloso troar das suas dúvidas, silenciam a íntima e sábia voz das suas consciências.

Deixai que seja ela a guiar-vos. Tudo, na criação de meu Pai, está meticulosa e – misericordiosamente posto para vosso bem – Ninguém morre. Nada morre.

Tudo é um contínuo progresso para o Paraíso. E nem sequer é o fim...

Repórter
- Mas as religiões e algumas Igrejas pregam a salvação e a condenação.

Jesus
- Não meças o nosso Pai Universal com a bitola dos homens, nem confundas a religião da autoridade com a do espírito.

Um dia todos mortais compreenderão que só o caminho da experiência e da procura pessoal da chispa divina é que alimenta cada um de vós.

Enquanto as orações não evoluírem, o mundo assistirá a essas cerimônias religiosas, mas supersticiosas, tão características dos povos primitivos.

Enquanto a Humanidade não alcançar um nível superior, reconhecendo assim as realidades da experiência espiritual, muitos homens e mulheres preferirão as religiões autoritárias, que só exigem o assentimento intelectual.

Essas religiões da mente, apoiadas na autoridade das tradições religiosas, oferecem um cômodo refúgio às almas confusas ou assediadas pelas dúvidas e pela incerteza.

O preço a pagar por essa falsa e sempre provisória segurança é o fiel e passivo assentimento intelectual às suas verdades.

Durante muitas gerações, a Terra acolherá mortais tímidos, temerosos e vacilantes que preferirão esse tipo de pacto.

E eu digo-te que, ao unirem os seus destinos ao das religiões da autoridade, porão em perigo a sagrada soberania das suas personalidades, renunciando ao direito de participar na mais apaixonante e vivificante de todas as experiências humanas: a busca pessoal da Verdade e psíquica.

Repórter
- O que representa essa busca pessoal?

Jesus
- As descobertas intelectuais, meu amigo, constituem sempre uma aventura e um risco. Mas só os audazes, os que obedecem ao seu próprio eu, têm capacidade para enfrentar isso.

Só esses, os autênticos pesquisadores da Verdade, sabem explorar resolutamente e sem medo as realidades da experiência religiosa pessoal.

E essas vitórias, único objetivo da existência humana, só conduzem a uma busca pessoal de nós que todo o homem que se empenhe nessa suprema aventura, encontrará meu pai no mesmo no meio do desalento das dúvidas.

A religião do espírito significa luta, conflitos, esforço, amor, fidelidade e progresso.

O dogmatismo, pelo contrário, exige apenas dos seus fiéis uma parte ínfima desse esforço.

Não esqueças que a tradição é um caminho fácil e um refúgio seguro para as almas tíbias e receosas, incapazes de enfrentar as duras lutas do espírito e da incerteza.

Os homens de fé viajam sempre pelos difíceis oceanos à procura de novos horizontes; os submissos limitam-se a navegar junto à costa ou fundeiam as suas inquietações ao abrigo de portos limitados impróprios para navios que foram construídos para corajosas e longínquas navegações.

Repórter
- O que deve fazer um homem que deseja encontrar a verdade?

Jesus
- Confiar no nosso Pai.

Só isso. Em cada manhã, em cada momento da tua vida, põe-te nas Suas mãos. Luta pela fraternidade entre os homens, luta pela tolerância e pela justiça. Luta em prol dos mais fracos.

Ele encarregar-se-á do resto.

Repórter
- O Pai deve ser um grande tipo!

Jesus
- É tão sem medida que mede os mares na concha da sua mão e os universos na distância de um palmo!

Ele quem está sentado na órbita da Terra, quem estende os céus como um manto e os ordena para que sejam habitados. Mas não confundas: Deus do símbolo verbal, que designa todas as personalidades da divindade...

Repórter
Como era o Deus antes da sua encarnação na terra?

Jesus
- Antes da minha encarnação na Terra, os homens podiam crer num Deus colérico, sedento de justiça. A sua ignorância era perdoável, agora revelei-lhes um pai misericordioso que só conhece a palavra amor.

Um pai não deseja a morte a seu filho. A Sua vontade era que eu permanecesse no vosso mundo até ao fim e esgotasse o cálice que todos os mortais, por sua natureza, beberam e beberão com partilha e foi para vos demonstrar que a fé em Deus nunca é estéril.

Sei que, apesar das minhas palavras, muitos dão outro sentido à minha morte na Cruz. Eu não vim ao mundo para saldar uma suposta velha dívida dos homens para com Deus.

O Pai celestial jamais poderia conceber a grave injustiça de condenar uma alma pelos erros dos seus antepassados.

Repórter
- Então, essas ideias dos cristãos sobre a redenção pela Cruz não faz sentido?

Jesus
- A tendência para o vício pode ser hereditária.
O pecado, pelo contrário, não se transmite de pais para filhos.

O pecado é um ato consciente e deliberado de rebeldia contra a vontade do nosso Pai Universal e ir contra as leis do filho.

Toda a ideia de resgate ou expiação é, por conseguinte, incompatível com o conceito de Deus. O amor infinito do nosso Pai ocupa o primeiro lugar dentro da natureza divina. 

Em verdade te digo que o sentido de salvação pelo sacrifício está arraigado no egoísmo.

Sei que a vida de serviço e o conceito mais elevado da fraternidade entre os crentes. 

E dir-te-ei mais: a salvação é crer na paternidade de Deus, a maior preocupação dos fiéis do reino não deveria ser o seu desejo egoísta de salvação pessoal, mas sim a necessidade de amar os seus semelhantes acima de si mesmos.

Os autênticos crentes não se preocupam com o possível futuro castigo de seus erros.
Interessam-se tão somente pelo restabelecimento do contato com Deus.

Por certo, um pai pode castigar os seus filhos, mas fá-lo por amor e com um fim e um sentido puramente disciplinares.

Repórter
- Então há um castigo futuro?

Jesus
- Mas não como tu o imaginas. O nosso Pai é amor.

E o amor é contagioso e eternamente criador. Crês que não existem outros meios melhores que os castigos para corrigir os erros das limitadas criaturas mortais?

Antes de eu ter vindo a este mundo (mesmo antes de tê-lo criado), todos os mortais do reino dispunham já da salvação.

O nosso Pai, repito-te, não é um monarca ofendido, severo e implacável, cujo principal prazer consista em detectar e perseguir as criaturas que agem na obscuridade ou no pecado.

A simples ideia de um resgate ou expiação colocaria a salvação num plano de irrealidade. Este conceito é puramente filosófico. 

A salvação humana é inegável e baseada em dois únicos princípios: Deus é nosso Pai e consequentemente, todo o homem são irmãos.

Repórter
Quando é que isso acontecerá? Quando desaparecerão a maldade e a injustiça?

Jesus
- Só há um caminho: o amor.

O amor dissolve o pecado e as fraquezas humanas. Ama os teus semelhantes! Ama-os na penúria e na riqueza! Ama-os mesmo quando penses que eles estão enganados!

Ama-os, simplesmente!

Adaptado da obra "Operação Cavalo de Troia - Vol 3" de J.J. Benitez

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