Depois
o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os
algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os
espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o
quanto sangra o couro cabeludo). Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem
dilacerado à multidão feroz, entrega-O para ser crucificado. Colocam sobre os
ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos… A
estaca vertical já está plantada sobre o Calvário.
Jesus
caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de
pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600
metros; Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre
os joelhos e os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por
terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso. Sobre o Calvário tem
início a crucificação.
Os
carrascos despojam o condenado, a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la
produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida sabe
do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se
laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos
dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas
ainda não é o fim.
O
sangue começa a escorrer; Jesus é deitado de costas; as suas chagas se
incrustam de pó e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz.
Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para
facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego
pontudo e quadrado), apóiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de
martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto
assustadoramente. O nervo mediano foi lesado.
Pode-se
imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que
se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor
mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela
lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a
consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco
nervoso permanece em contato com o prego; quando o corpo for suspenso na cruz,
o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a
cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores
dilacerantes. Um suplício que durará três horas.