O
carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus,
colocando-o primeiro sentado e depois em pé; conseqüentemente fazendo-o tombar
para trás, o encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço
horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam
dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de
espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez
que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira.
Cada
vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor.
Pregam-lhe
os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu nada desde a tarde anterior. Seu
corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior
começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem
sede… Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em
bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um
estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se
enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps
esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de
tétano. É isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se
generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida
aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios.
A
respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não
consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como
um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho,
depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é
envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A
fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.
Mas
o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de
apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a
tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se
mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez
inicial.
Por
que este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o
que fazem”. Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia
recomeça.
Foram
transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar,
deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.
Inimaginável!
Atraídas
pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao
redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o
sol se esconde: de repente a temperatura diminui.
Logo
serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas, todas as suas
dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos lhe
arrancam um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”
Jesus
grita: “Tudo está consumado!”. Em seguida num grande brado diz:
“Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito”
E
morre… Em meu lugar e no seu.
Autor: dr.
Pierre Barbet
Fonte: Veritatis Splendor