Saulo, Schaoul,
natural de Tarso da Cilícia, filho da tribo de Benjamim, a mesma do rei David.
Filho de comerciantes ricos, cidadão romano, ligado à seita dos fariseus, aluno
do glorioso rabino Gamaliel, zeloso defensor da Torá.
Depois de oito dias atravessando a estrada arenosa que ligava
Jerusalém a Damasco, o coração cheio de fúria, inflamado pelo fanatismo
religioso, Saulo estava cansado mas prosseguia com obstinação. Era mais ou
menos meio-dia.
Subitamente, uma luz muito forte o envolveu e o fez cair por
terra. Enquanto tentava compreender o que estava acontecendo, ouviu uma voz:
"Saulo, Saulo, por que me persegues?" Assustado, perguntou:
"Quem és, Senhor?" A voz lhe respondeu: "Eu sou Jesus a quem tu
persegues". "Senhor, que queres que eu faça?" A voz disse:
"Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer".
Saulo, o perseguidor, converteu-se no grande arauto do
cristianismo, um caso único. Alguém que não chegou a conhecer Jesus
pessoalmente, que não fazia parte dos doze, mas que se lançou na difícil missão
de evangelizar os povos pagãos, percebendo que não era necessário passar pelo
judaísmo para se tornar discípulo de Jesus.
Embora Pedro já tivesse aberto a porta da Igreja para os gentios,
Saulo, ou Paulo, merece sem dúvida o título de Apóstolo das Gentes.
Em 44, achava-se na cidade de Antioquia (foi lá que pela primeira
vez os discípulos de Jesus receberam o nome de "cristãos") com
Barnabé. Ao longo de um ano trabalharam juntos. Na primavera de 45, tomaram um
barco para a ilha de Chipre e depois seguiram para a Panfília, percorrendo, em
seguida, a Licaônia. Paulo entrava nas sinagogas, pregava, procurava demonstrar
que Jesus era o Messias esperado usando as Escrituras. Depois, voltava-se para
os pagãos e anunciava-lhes a Boa-Nova. Sempre encontrou muitos obstáculos no
seu ministério, principalmente a oposição de seus irmãos de raça.
Quando voltou para Antioquia entrou em confronto com os
judaizantes, que impunham o rito da circuncisão como pré-requisito para seguir
Jesus. A controvérsia é levada até Jerusalém, diante de Pedro, Tiago e João (o
famoso Concílio de Jerusalém, cerca de 49), os quais aprovam o procedimento de
Paulo. Para salvar-se o que importa não é a circuncisão, mas a fé em Cristo que
opera pela caridade. Isto selou o rompimento do cristianismo com o judaísmo.
Em 49, Paulo sai de Antioquia para uma viagem de três anos. Deixa
Barnabé e toma Silas como companheiro. Na cidade de Listra, Paulo e Silas
encontram Timóteo e seguem atravessando a Frígia e a Galácia, alcançando a
Macedônia. Em Filipos são presos. Em Tessalônica são acusados de adversários do
imperador pelos judeus, porque diziam que Jesus era rei. Em Beréia, a sinagoga
escuta atentamente a pregação de Paulo, comparando suas palavras com o que
havia nas Escrituras.
Quando entra em Atenas, fica impressionado com a enorme quantidade
de ídolos e monumentos aos deuses. Discute com os atenienses na ágora, tentando
usar um pouco da linguagem da filosofia para lhes falar de Jesus. Quando trata
da cruz e da ressurreição, no entanto, é ridicularizado. Crer que um escravo
crucificado saiu de seu túmulo era demais para a sofisticação intelectual
grega.
Logo a seguir desce para Corinto, cidade portuária, na qual
existem dois escravos para cada homem livre. Lá, onde trabalha muita gente
vinda do Oriente, o acolhimento do Evangelho é maior do que em Atenas. Como
fabricante de tendas, Paulo fica na cidade por dezoito meses. Neste período
envia suas duas cartas aos Tessalonicenses. Após uma breve escala em Éfeso,
Paulo volta para a Síria pelo mar.
Em 53, Paulo realiza sua terceira viagem missionária, a mais demorada
de todas. Escolhe Éfeso como base de ação (54-57), de onde envia a epístola aos
Gálatas e a primeira epístola aos Coríntios. Em Corinto estavam surgindo
divisões que enfraqueciam seriamente a comunidade.
Um fabricante de estatuetas de Ártemis provoca um grande tumulto
em Éfeso, contra os cristãos, o que obriga Paulo a partir. O apóstolo segue
para a Macedônia, onde escreve a segunda epístola aos Coríntios. Fica em
Corinto novamente e de lá redige a carta aos Romanos, pedindo ajuda para
efetuar uma viagem evangelizadora até a Espanha.
Antes disso é preciso ir até Jerusalém levar a coleta feita no
Oriente em favor da Igreja-mãe. Saindo de Filipos, ele passa por Trôade e
depois chega a Mileto. Aos efésios, que foram encontrar-se com ele, confidencia
que não espera mais vê-los.
Em Cesaréia tentam detê-lo. No ano de 58, em Pentecostes,
encontra-se na cidade santa. Quase linchado, é preso. Quando vai ser flagelado,
apela para sua condição de cidadão romano, e faz com que o enviem a Cesaréia,
onde mora o procurador Félix. A questão se arrasta por dois anos. O sucessor de
Félix, Festo, cansado de ouvir os apelos de Paulo a César, envia-o para Roma.
Quando finalmente chega à capital do Império, passa dois anos em
liberdade vigiada, correspondendo-se com as comunidades de Colossas, Éfeso e
Filipos. Neste ponto se encerra a narrativa dos Atos dos Apóstolos.
As epístolas a Tito e a Timóteo são de um segundo cativeiro, na
época da perseguição de Nero.